segunda-feira, 18 de julho de 2011

IGREJA DE PÉRGAMO APOCALIPSE 2:12-17



A Cidade de Pérgamo
A terceira carta é dirigida à Igreja de Pérgamo, agora chamada Bergama, cuja cidade ficava situada a cerca de 65 Km a nordeste de Esmirna, e a 26 Km do mar Egeu, naquilo que é hoje a Turquia. Não estava situada junto a grandes vias, como Éfeso e Esmirna, porém era a maior das cidades asiáticas nos tempos do Novo Testamento. 

Com a ajuda dos romanos, ganhou independência em 190 a.C. e passou a fazer parte do império romano a partir de 133 a.C.. Começou a destacar-se depois da morte  de Alexandre, o Grande (333 a.C.), quando Átalo III, o último rei de Pérgamo, passou o reino a Roma em testamento, tornando-se esta a partir de então a capital da província da Ásia durante mais de 200 anos. 

A Religião em Pérgamo
Pérgamo era um dos centros religiosos mais importantes do mundo antigo. Aqui se prestava culto a muitos deuses cujos templos se erguiam sumptuosos no ponto mais alto da cidade, numa Acrópole de cerca de 250 metros de altura:

a) A Zéus (salvador do mundo), cujo altar tinha 14 metros de altura; a Jupiter, cujo trono tinha a forma de um trono; a Baco (deus do vinho); e a Hera (mulher de Zéus, deusa do casamento).

b) Em 29 a.C. foi construído ali um templo ao “Divino Imperador Augusto e à deusa Roma”, mostrando assim a sua lealdade a Roma. Mais tarde, foram construídos outros templos em honra dos imperadores Trajano e Severo.

c) Havia um templo dedicado a César, onde, uma vez por ano, era obrigado a queimar-se em seu altar um pouco de incenso e dizer: “César é o Senhor”. Era um acto de lealdade política.
d) Ali se encontrava também o templo a Esculápio, o deus da medicina (cujo emblema era uma serpente dourada, actual símbolo da medicina), magnificamente construído e cujas ruínas permanecem até hoje.

Pérgamo era devota à cultura. Sua famosa  biblioteca, que continha mais de 200.000 famosos volumes, apenas era inferior à de Alexandria, no Egito. No ano 133 a.C. António doou-a à sua amante Cleópatra, rainha do Egito, que a transportou para Alexandria e ali foi destruída por ordem do Califa Omar, em 640 d.C..

Ficou também conhecida por causa do tratamento do couro dos animais usados na fabricação de livros. Teve seu nome perpectuado na expressão “pergaminhos”, que são os rolos de couro curtido especialmente para escrita.

A Igreja em Pérgamo
O Evangelho chegou a Pérgamo, provavelmente, quando Paulo, de Éfeso, evangelizava a Ásia Menor (Actos 19:1), em sua terceira viagem missionária.

Pérgamo era uma cidade de grande imoralidade (14), maior que qualquer outra cidade de então. Esta verdade é indicada pela declaração de Cristo à Igreja desta cidade, o qual estava colocada num lugar aonde se encontrava “o trono de Satanás”.

Esta Igreja era uma Igreja fiel ao nome de Cristo, até ao ponto de martírio (13). Para os cristãos era difícil viver neste lugar. Como poderiam eles chamar “salvador” ao deus Esculápio, quando havia só “Um Salvador”, ou prestar-lhe culto? Como poderiam os cristãos queimar incenso a César e dizer “César é o Senhor”, quando havia “somente um Senhor, Jesus Cristo”?

Para não sofrer pressões a Igreja cedeu, permitindo a influência pagã dentro da comunidade. Constantino, em 310 d.C., tornou o Cristianismo a religião do Estado, originando uma espiritualidade decrescente e um crescimento mundano. Foi nesta época que se conheceu pela primeira vez o “baptismo infantil”.

Credenciais de Jesus
"Ao anjo da igreja em Pérgamo escreve: Estas coisas diz aquele que tem a espada afiada de dois gumes" (2:12).

Esta Igreja estava dando guarida ao erro. Homens de mente corrupta infestavam a obra de Deus e Cristo resolveu pelejar contra eles com a palavra da sua boca. Jesus se identifica como "aquele que tem a Espada Aguda de Dois Fios".

Temos aqui um duplo simbolismo:
a) Pode significar o poder de Cristo para proteger os seus, mesmo no meio da perseguição e onde os mártires estivessem caindo;

b) Pode simbolizar o poder do julgamento bem executado. A Igreja estava dando guarida ao erro e Cristo vem com a "Espada de Dois Gumes", que sai da sua boca, para julgar e condenar os falsos doutores.

A "Espada de Dois Gumes", é a própria Palavra de Deus. João estava expressando com esta verdade o contraste entre o governo romano, que governava pelo poder da espada, e o facto de Cristo realmente ter o poder da soberania.

João estava estabelecendo o contraste de um tipo de espada e outro:
a) "Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração" (Hebreus 4:12). A Palavra de Deus não somente é "viva", mas é também poderosa para agir no interior do homem. A palavra "eficaz" significa: "atividade", "força", "vigor", "poder de realização".

b) O apóstolo Paulo, descrevendo a armadura do soldado cristão, refere-se à "…a espada do Espírito, que é a palavra de Deus" (Efésios 6:17). Trata-se de uma poderosa arma que se projecta sobre os corações, que “penetra até à divisão da alma e do espírito” (Apocalipse 19:21) e que “serve para penetrar, dividir, desnudar, inspirar, ensinar, buscar, converter, salvar e santificar”… (II Timóteo 3:15-16).

É através de sua Palavra, que Deus julga seu povo e os inimigos de seu povo: "Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada; ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus?" (I Pedro 4:17).

O “duplo gume” significa a autoridade em todas as direcções (Mateus 28:18). A Igreja, nas condições em que estava, precisava mesmo  dessa espada para a disciplina. É arma de dois fios, para a ofensiva e para a defensiva, para aniquilar o pecado e destruir os pecadores, para ferir os que querem evitá-la passando pela direita e para golpear os que experimentem desviar-se pela esquerda.

Elogio (2:13)
"Eu sei as tuas obras, e onde habitas, que é onde está o trono de Satanás; e reténs o meu nome, e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita".

“Eu sei as tuas obras…” O Senhor sabia quão difícil era para os fiéis cristãos de Pérgamo permanecerem no Senhor, no meio de tanta idolatria. Ele tem um profundo conhecimento das Suas Igrejas por que anda no meio delas.

Ele conhece as obras do Seu povo (como diz à Igreja de Éfeso), conhece as tribulações do seu povo (como diz a Esmirna) e conhece o lugar onde Seu povo habita (como diz agora a Pérgamo). “E onde habitas…”. Os crentes habitavam na cidade onde estava o "Trono de Satanás". No ano 70 d.C., foi erigido  na  cidade  um  altar  de  adoração de Augusto. A cidade fora conservada  como  centro da religião estatal, e por isso se diz que ali estava localizado o "Trono de Satanás".

Outras variações a respeito do que seria este "Trono de Satanás": 
a) Poderia ser a colina por detrás da cidade, na qual estavam os três templos dos imperadores romanos: Augusto (29 a.C.), Trajano e Severo;

b) Outros acham que é uma referência ao altar dedicado a Zéus, erigido sobre uma base a 240 metros acima do nível da cidade;

c) Poderia ser a adoração a Esculápio, o “deus da cura”, cujo símbolo era a serpente,

d) Ou a própria cidade, em razão do misticismo e demonismo de todos os cultos pagãos.
“Reténs o meu nome…”. Embora a Igreja estivesse localizada num local cercado de tantos deuses pagãos, os crentes são elogiados por não se desviarem do seu Senhor.

Eles tinham guardado o “nome de Cristo” e por Ele se bateram, renegando o nome de César. Confessavam que "Cristo é o Senhor", e não "César é o Senhor", que era a grande "SENHA" daquela época.

É possível que Antipas, mencionado neste versículo, tenha sido um líder de grande influência na igreja, no primeiro século e que, por sua fidelidade a Jesus, foi colocado vivo dentro de um boi de bronze, onde havia água, e aquecido numa fogueira. Morreu, cantando e louvando a Deus, enquanto vivo (10). Mesmo com a morte batendo às portas, a igreja estava mantendo sua fidelidade.

Ser crente fiel, quando tudo está bem ao nosso redor, é muito fácil. Mas, não era isto que acontecia àqueles irmãos. "Reter" o nome de Cristo, significava ser perseguido, e até morto. Pedro fala das provações que podemos sofrer por amor a Cristo, (I Pedro 4:12-16).

QUEIXA
(2:14-15)

“Tenho, todavia, contra ti algumas coisas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição. Outrossim, também tu tens os que da mesma forma sustentam a doutrina dos nicolaítas".

A aprovação dá lugar à advertência. Pérgamo é julgada com certa dureza, porque tolerava a existência de falsas doutrinas no seu seio. A salvação pelas obras tornara-se uma “doutrina dentro da igreja” (15), o que contrariava a “doutrina bíblica”, pois era uma heresia ( Colossenses 2:4, 8 ). Enquanto que em Éfeso não eram tolerados homens maus (2:5), em Pérgamo, os homens maus tinham assumido posições de liderança na Igreja, os não hesitando em introduzir práticas pagãs no seu seio.

A principal heresia, era a “doutrina de Balão”. Por não poder “amaldiçoar” o povo de Israel, Balaão tentou destruí-lo levando seus homens a manterem relações sexuais com as mulheres moabitas, manchando a sua santidade (Números 25:1-3).

Favorecia o incesto (união ilícita entre parentes próximos) e o jugo desigual (Números 25; II Coríntios 6:15-18). Nos capítulos 22 a 25 e 31:6 de Números, descobriremos seu modo subtil de colocar as ideias. O “quem sabe…” ou o “talvez…” continuam a ser actuais.

O Senhor censurou o Pastor daquela Igreja por sua tolerância diante de tal heresia. Ele (anjo) fora ali colocado à frente do rebanho não só para presidir, mas também para admoestar (I Tessalonicenses 5:12). Ele devia ter zelado pelo cumprimento da sã doutrina e aplicado a disciplina, se os faltosos não tomassem uma atitude de acordo com a Palavra de Deus (Mateus 18:18; II Tessalonicenses 3:14).

A outra heresia era respeitante aos ensinos dos “nicolaítas” (15), para que os cristãos vivesse imoralmente, para poderem viver com os romanos e não serem perseguidos. Eles consideravam natural, e portanto inofensivo e lícito, o comer coisas sacrificadas aos ídolos e a fornicação por ser o sexo uma coisa criada pelo próprio Deus e, portanto, inteiramente despido de maldade (Génesis 2:18); I Coríntios 10:19-21; Actos 15:23-29). 

O fundador da seita fora Nicolau, um dos sete diáconos (?) de Jerusalém (Actos 6:5), que se desviou e começou a ensinar que os actos dos homens não os afastavam de Deus. Era o “não faz mal…” ( Malaquias 1:8 ) ou “os outros também fazem assim…” dos nossos dias.

AVISO (2:16-17a)
“Arrepende-te, pois, quando não em breve virei a ti, e contra eles batalharei com a espada da minha boca. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas…”
Jesus mostra, então, o caminho da vitória sobre o erro: “Arrepende-te” (16).

Arrependimento significa nova tomada de posição diante dos erros cometidos, pedir perdão e evitar tornar a cometê-los, ou seja, conversão, mediante o poder transformador do Espírito Santo. Quando não há arrependimento por parte de seus filhos, Deus utiliza o julgamento, cuja intensidade, tende a aumentar, caso o errado não mude de atitude, ficando na sua intransigência (Hebreus 12:4-11).

O aviso é solene: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (17). Quando o Senhor adverte e exorta, mostrando o mal, sempre convida ao arrependimento. Toda a Igreja é chamada ao arrependimento de um pecado pelo qual só alguns eram culpados.

A PROMESSA (2:17b)

Nesta carta, os crentes de Pérgamo são elogiados por sua lealdade a Cristo. A promessa, feita aos vencedores, aos que se opõem às falsas doutrinas e permanecem fiéis a Cristo, é tripla:

a) "Ao que vencer darei a comer do maná escondido". Assim como Deus acudira às necessidades físicas de seu povo no deserto (Êxodo 16:11-15), quando saíram da escravidão do Egito, assim também Deus nos atenderá em tudo. Ele concederá aos vencedores o "maná escondido", um tipo de sustento espiritual, que o mundo  não  pode  ver  e  nem  conhecer:  Jesus é o "Pão da Vida" (João 6:35, 48-51, 57-58). 

b) E dar-lhe-ei uma pedra branca…". Que significa isto? Pérgamo era uma cidade que se ocupava da extracção de pedras preciosas,  brancas,  comercializando--as. Uma pedra branca, trazendo um nome escrito nela, tinha vários sentidos:

Era dada esta pedra, a um homem que sofrera um processo na justiça e fora absorvido. Levava a pedra como prova de sua inocência. O condenado, uma pedra preta.

Conferia-se esta pedra ao escravo liberto, e que agora se tornava cidadão da província. A pedra era levada para comprovar sua cidadania;

Era também conferida aos vencedores das corridas, ou lutas, como prova da vitória sobre seu adversário;

Era conferida ao guerreiro, quando voltava da batalha e da vitória sobre seus inimigos.
- Sugere, também, amizade. A pedra era quebrada e cada um dos amigos retinha a sua metade com o nome do outro, como prova de união permanente. A palavra branco é uma característica do Apocalipse. Assim, encontramos “vestes brancas” (3:5), “túnicas brancas” (7:9), “linho branco (19:8, 14) e o grande “trono branco de Deus” (20:21).

c)  “…e na pedra um novo nome escrito”. Se outrora, o israelita tinha o nome de sua tribo gravado nas pedras do peitoral levado pelo Sumo-Sacerdote ao entrar no Lugar Santíssimo, o vencedor, em Pérgamo, tem alguma coisa mais: “seu nome escrito nos céus”, como disse Jesus (Lucas 10:20).  

Se na terra os homens são galardoados quando conseguem feitos importantes, nós, como filhos de Deus, somos coroados por Deus, quando vencemos em Nome de Cristo.

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